Gal Oppido | Sentidos da pele
Sentidos da Pele
A carne é trêmula
e fracta.
Crina de nervos,
veneno de víbora,
a carne é égua
sob o cabresto
de seus incestos
sem freios.
Fálica e côncava,
intrépida e férvida,
a carne é estrábica
nos entreveros
do sexo
com seus desacertos
conexos.
Sob o olho
sem mácula e cego,
a carne é crápula
nos arpejos
indefesos
de seus perversos
desejos.
(Trecho de poema de Mário Chamie in Antologia Poética)
Os corpos se despem, falam em seus movimentos e na sua geografia, cada corpo é um mapa de si. Dos corpos perfeitos aos quais somos bombardeados dia e noite pela publicidade, não sobrou nada. Esvaneceram as cicatrizes, os cabelos brancos, os pequenos defeitos. Sumiu o indivíduo, sua essência, sobrou a imagem modificada e tratada até a exaustão.
Os humanos de Gal Oppido são verdade, telas marcadas pelas incertezas do tempo, suas fissuras, seus limites e suas imperfeições. As formas, gestos, símbolos, mascaras e adereços que se infundem aos corpos fotografados, acresentam-lhes um sentido mais denso, erótico e profundo. Como escreveu Georges Bataille, a nudez aqui é ostentada em nome de quê? Da vida ao ar livre? Da liberdade? Da transgressão ingênua que se faz lei? Mas na crença de uma vida mais livre, sem preconceitos, e sobretudo sem o constrangedor sentimento da vergonha, tal utopia acaba neutralizando o que há de mais essencial na nudez: seu erotismo. Desfraldada (como uma bandeira), a nudez se esvazia e os corpos nivelados perdem sua dimensão simbólica, onde por sinal vivemos.
Na exposição Os Sentidos da Pele Gal Oppido explora o corpo humano como parte de um ritual que comunica aos homens sua essência. Aqui, a nudez se apresenta como sagrada, repleta de alegorias, signos. Cada imagem exibe uma variedade de movimentos, texturas, sombras e luzes que se excitam e dão sentido à carne. É na pele que se escondem nossos segredos, emoções e desejos mais intrigantes.
Conhecemos toda nudez, mas Oppido nos faz perde-la de vista para, assim, reencontra-la novamente. Aqui reside o erotismo, o sensual, o misterioso, na fusão e supressão dos limites do corpo.
As fotografias de Gal exibem a beleza do corpo em suas minúcias, revelando sentidos perdidos em nós mesmos.
Curadoria: Paulo Kassab Jr.
17/05/16 - 18/06/16